Em 2010, o mundo assistiu, apreensivo, a um dos resgates mais dramáticos da história da mineração: o salvamento dos 33 mineiros presos na mina de San José, no norte do Chile. O acidente tornou-se um símbolo de resistência humana e cooperação internacional, marcando profundamente o setor de mineração e a segurança do trabalho.
O ACIDENTE
Em 5 de agosto de 2010, quando um desmoronamento na mina de cobre e ouro San José, localizada no Deserto do Atacama, perto da cidade de Copiapó, soterrou 33 mineiros a 700 metros de profundidade. A mina, com um histórico de problemas de segurança, apresentava condições precárias há algum tempo. A estrutura era instável, e os trabalhadores já haviam reportado situações de risco.
Os mineiros ficaram presos em uma área conhecida como refúgio, que, embora projetada para emergências, oferecia pouca proteção diante das condições extremas. Com temperaturas de cerca de 35°C e escassez de suprimentos, eles tinham comida suficiente apenas para dois ou três dias: pequenas porções de atum, biscoitos e leite. A água potável era limitada e, no início, não havia nenhuma forma de comunicação com a superfície.
O DESESPERO E O MILAGRE
Nos primeiros dias após o acidente, as equipes de resgate não sabiam se os mineiros ainda estavam vivos. A cada dia que passava, a angústia das famílias e dos resgatistas aumentava. Contudo, a determinação em salvá-los nunca diminuiu. Equipamentos de perfuração foram utilizados para tentar localizar os mineiros, e finalmente, em 22 de agosto, 17 dias após o desmoronamento, uma sonda chegou ao refúgio.
Quando a sonda foi retirada, havia uma mensagem de esperança presa a ela: “Estamos bien en el refugio, los 33” (“Estamos bem no refúgio, os 33”). Esta frase se tornaria um símbolo de sobrevivência e resiliência. Os mineiros estavam vivos, mas o resgate completo seria uma operação complexa e demorada.
OPERAÇÃO DE RESGATE
Uma vez confirmado que os mineiros estavam vivos, começou uma corrida contra o tempo para trazê-los de volta à superfície. As equipes de resgate conseguiram enviar comida, água e medicamentos por pequenos dutos perfurados, além de equipamentos de comunicação. Isso permitiu que os mineiros se mantivessem em contato com suas famílias e coordenassem suas necessidades com as equipes de resgate.
Foram traçados três planos principais, utilizando diferentes tipos de perfuradoras, com o objetivo de abrir um túnel suficientemente largo para resgatar os mineiros. O Plano B, que utilizou a perfuradora Schramm T130, foi o mais promissor. Após semanas de perfuração, o túnel foi finalmente concluído.
A CÁPSULA FÊNIX
O resgate foi realizado utilizando uma cápsula especial chamada Fênix, projetada para içar os mineiros através do túnel estreito. Com apenas 53 cm de diâmetro, a cápsula foi usada para trazer cada mineiro à superfície, um a um. O resgate começou no dia 13 de outubro de 2010 e durou cerca de 22 horas.
O primeiro mineiro a ser resgatado foi Florencio Ávalos, e o último a sair da mina foi Luis Urzúa, o chefe da equipe. Todos os 33 mineiros foram salvos, e o mundo acompanhou ao vivo a operação, que foi transmitida para milhões de pessoas. Eles haviam passado 69 dias presos no subsolo, marcando um recorde de sobrevivência em um acidente de mineração.
IMPACTOS E LEGADO
O resgate foi uma demonstração impressionante de cooperação internacional. Países como os Estados Unidos, Canadá e Coreia do Sul contribuíram com tecnologia e expertise. As lições aprendidas no acidente de San José levantaram uma discussão global sobre a segurança no trabalho em minas, evidenciando a necessidade de melhorias significativas nas condições de trabalho de mineiros ao redor do mundo.
Os mineiros passaram por tratamento médico e psicológico após o resgate, e suas histórias de coragem foram amplamente celebradas. O evento também inspirou uma série de adaptações para o cinema e a literatura, mantendo viva a memória do acidente.
O FILME “OS 33” E AS POLÊMICAS
Em 2015, a história dos mineiros foi levada às telas no filme "Os 33", estrelado por Antonio Banderas como Mario Sepúlveda, um dos líderes dos mineiros. Embora o filme tenha sido um sucesso comercial, ele não escapou de polêmicas e críticas.
A escolha de um elenco internacional, com atores como Antonio Banderas, a francesa Juliette Binoche e o brasileiro Rodrigo Santoro, gerou controvérsia. Muitos críticos questionaram a falta de atores chilenos em papéis centrais, argumentando que isso comprometeu a autenticidade cultural da narrativa. Além disso, o fato de o filme ser majoritariamente em inglês, mas com os atores tentando adotar sotaques espanhóis, também foi criticado por parecer artificial e prejudicar a imersão na história.
No entanto, apesar dessas críticas, a atuação de Banderas foi amplamente elogiada, e o filme conseguiu transmitir o drama e o heroísmo da operação de resgate. A produção destacou a resistência dos mineiros e o esforço extraordinário de suas famílias e equipes de resgate.
Apesar do sucesso, muitos Chilenos se revoltaram com o filme pois, algumas das vítimas do acidente, alegaram que o estúdio responsável pelo filme os fez assinar cláusulas de direito de imagem vitalícia mas não os compensaram satisfatoriamente por isso.
CONCLUSÃO
O acidente dos 33 mineiros no Chile foi uma tragédia que se transformou em uma história de esperança e superação. O resgate, transmitido para o mundo inteiro, se tornou um símbolo de união e determinação humana. Embora o filme tenha gerado debates sobre representatividade, a história dos mineiros de San José continua sendo um exemplo notável de resiliência diante de adversidades extremas.
Esse episódio não só mudou a vida dos mineiros e de suas famílias, mas também colocou em destaque a necessidade de melhorar as condições de trabalho na indústria da mineração globalmente.
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Referências:
- https://www.papodecinema.com.br/filmes/os-33/
- https://www.adorocinema.com/filmes/filme-196244/criticas-adorocinema/
- https://www.bbc.com/portuguese/internacional-55926799
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Acidente_na_mina_San_Jos%C3%A9_em_2010